Todas histórias aqui escritas circulam pela internet, normalmente por correio eletrônico, e que aparecem aqui e ali, com alguns detalhes alterados, de tal forma que não é possível determinar se algumas são autênticas ou não. O certo é que, verdadeiras ou não, todas elas emocionam, edificam e, principalmente, deixam uma lição que pode ser de grande ajuda, especialmente em momentos críticos.

25 de junho de 2013

Balada para Maria



Rio de Janeiro
Não sei o que me angustia
 Tardiamente; em meu peito
 Vive dormindo perfeito
 O sono dessa agonia...
 Saudades tuas, Maria?
 Na volúpia de uma flora
 Úmida, pecaminosa
 Nasceu a primeira rosa
 Fria... 

 Perdi o prazer da hora. 

Mas se num momento cresce
 O sangue, e me engrossa a veia
 Maria, que coisa feia!
 Todo o meu corpo estremece...
 E dos colmos altos, ricos
 Em resinas odorantes
 Pressinto o coito dos micos
 E o amor das cobras possantes.

 No mundo há tantos amantes...

Maria... Cantar-te-ei brasileiro:
 Maria, sou teu escravo!
 A rosa é a mulher do cravo...
 Dá-me o beijo derradeiro?
 - Cobrir-te-ei de pomada

 Do pólen das flores puras
 E te fecundarei deitada
 Num chão de frutas maduras
 Maria... e morangos, quantos!
 E tu que adoras morango!
 Dormirás sobre agapantos...
 - Fingirei de orangotango!

 Não queres mesmo, Maria? 

 No lombo morno dos gatos
 Aprendi muita carícia...
 Para fazer-te a delícia
 Só terei gestos exatos.
 E não bastasse, Maria...

 E morro nessas montanhas
 Entre as imagens castanhas
 Da tua melancolia...

Vinicius de Moraes
Imagem: Vicente Romero Redondo

Nota


Balada Originalmente ligada à música e à dança, a balada despontou como expressão literária no século XIII, entre os povos de fala germânica. No século XV, apareceram baladas literárias sem qualquer vinculação com a música, como as do francês François Villon, em oitavas, exibindo características totalmente originais. Nos dois séculos seguintes, a balada praticamente caiu em desuso, voltando a desperetar interesse no século XVIII, quando despontou em meio aos escritores como um tesouro popular a ser redescoberto e valorizado. Um marco fundamental foi a publicação, em 1756, na Inglaterra, das Reliques of Ancient English Poetry (Relíquias da antiga poesia inglesa) , uma compilação levada a cabo pelo bispo Thomas Percy. Logo os românticos também se voltaram para a balada, nela procurando a espontaneidade musical e o acento popular. Nomes como Schiller, Heine e Victor Hugo deram nova dimensão ao gênero. Alguns compositores do período, especialmente Chopin e Brahms aludiram à forma lírica dando a algumas de suas peças o nome de "balada". O modelo francês foi o mais adotado: três estâncias de oito versos (repetindo-se sempre o último verso em cada uma delas), rimas em esquema ababacac, e um ofertório de quatro versos com rimas acac. No Brasil, os poetas parnasianos cultivaram a balada segundo a norma francesa, atraídos pela dificuldade formal. Já os poetas modernos adotaram o nome balada no título de alguns de seus poemas sem qualquer obediência a uma forma fixa, apenas chamando a atenção para a musicalidade dos versos ou para o seu conteúdo narrativo. Bons exemplos são Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Vinicius de Moraes, tendo sido este último o que mais se dedicou ao gênero, chegando a seu ponto alto no livro Poemas, sonetos e baladas.