Todas histórias aqui escritas circulam pela internet, normalmente por correio eletrônico, e que aparecem aqui e ali, com alguns detalhes alterados, de tal forma que não é possível determinar se algumas são autênticas ou não. O certo é que, verdadeiras ou não, todas elas emocionam, edificam e, principalmente, deixam uma lição que pode ser de grande ajuda, especialmente em momentos críticos.

31 de março de 2013

AS FADAS


 As fadas… eu creio nelas! Umas são moças e belas, 
 Outras, velhas de pasmar… Umas vivem nos rochedos, 
 Outras, pelos arvoredos, outras, à beira do mar…

 Algumas em fonte fria escondem-se, enquanto é dia,
 Saem só ao escurecer… Outras, debaixo da terra, 
 Nas grutas verdes da serra, é que se vão esconder… 

 O vestir… são tais riquezas, que rainhas, nem princesas 
 Nenhuma assim se vestiu! Porque as riquezas das fadas 
 São sabidas, celebradas por toda a gente que as viu… 

 Quando a noite é clara e amena e a lua vai mais serena, 
 Qualquer as pode espreitar, fazendo rodas, ocupadas
 Em dobar suas meadas de ouro e de prata, ao luar.


 O luar é os seus amores! Sentadinhas entre as flores 
 Horas se ficam sem fim, cantando suas cantigas, 
 Fiando suas estrigas, em roca de oiro e marfim.




 Eu sei os nomes de algumas: Viviana ama as espumas 
 Das ondas nos areais, vive junto ao mar, sozinha, 
 Mas costuma ser madrinha nos batizados reais. 


 Morgana é muito enganosa; Às vezes, moça e formosa,
 E outras, velha, a rir, a rir… Ora festiva, ora grave,
 E voa como uma ave, se a gente lhe quer bulir.


 Que direi de Melusina? De Titânia, a pequenina, 
 Que dorme sobre um jasmim? De cem outras, cuja glória
 Enche as páginas da história dos reinos de el-rei Merlin?


 Umas têm mando nos ares; Outras, na terra, nos mares;
 E todas trazem na mão aquela vara famosa, 
 A vara maravilhosa, a varinha de condão. 


 O que elas querem, num pronto, fez-se ali! 
 parece um conto… Mesmo de fadas… eu sei! 
 São condões que dão à gente, ou dinheiro reluzente 
 Ou jóias, que nem um rei! 



 A mais pobre criancinha se quis ser sua madrinha, 
 Uma fada… ai, que feliz! São palácios, num momento… 
 Beleza, que é um portento… Riqueza, que nem se diz…



 Ou então, prendas, talento, ciência, discernimento, 
 Graças, chiste, discrição… Vê-se o pobre inocentinho 
 Feito um sábio, um adivinho, Que aos mais sábios vai à mão! 



 Mas, com tudo isto, as fadas são muito desconfiadas; 
 Quem as vê não há-de rir. Querem elas que as respeitem, 
 E não gostam que as espreitem, Nem se lhes há-de mentir.


 Quem as ofende… Cautela! A mais risonha, a mais bela, 
 Torna-se logo tão má, tão cruel, tão vingativa! 
 É inimiga agressiva, é serpente que ali está!


 E têm vinganças terríveis! Semeiam coisas horríveis,
 Que nascem logo no chão… Linguás de fogo que estalam! 
 Sapos com asas que falam! Um anão preto! Um dragão! 


 Ou deitam sortes na gente… O nariz faz-se serpente, 
 A dar pulos, a crescer… É-se morcego ou veado… 
 E anda-se assim encantado, enquanto a fada quiser!


 Por isso quem por estradas for, de noite, e vir as fadas 
 Nos altos mirando o céu, deve com jeito falar-lhes 
 Muito cortez e tirar-lhes Até ao chão o chapéu.


 Porque a fortuna da gente está às vezes somente 
 Numa palavra que diz; Por uma palavra, engraça
 Uma fada com quem passa, e torna-o logo feliz.


 Quantas vezes já deitado, mas sem sono, inda acordado
 Me ponho a considerar que então eu pediria, 
 Se uma fada, um belo dia, me quisesse a mim fadar…


 O que seria? Um tesouro? Um reino? Um vestido de ouro? 
 Ou um leito de marfim? Ou um palácio encantado, 
 Com seu lago prateado e com pavões no jardim?


 Ou podia, se eu quisesse, pedir também que me desse
 Um condão, para falar a linguá dos passarinhos,
 Que conversam nos seus ninhos… Ou então, saber voar!

  
 Oh, se esta noite sonhando, alguma fada, engraçando 
 Comigo (podia ser!) me tocasse da varinha, 
 E fosse minha madrinha mesmo a dormir, sem a ver…


 E que amanhã acordasse e me achasse… eu sei? 
Me achasse feito um príncipe, um emir!… 
 Até já, imaginando, se estão meus olhos fechando… 
 Deixa-me já, já dormir!

 Antero de Quental.